terça-feira, 5 de abril de 2011

O Sabonete

Desde que as ancas mudaram o nome popular para bunda, o mundo não é mais o mesmo. De lá para cá, coisas absurdas acontecem, verdadeiras anomalias industriais passaram a ser produzidas em larga escala descaradamente.

Se Zigmunt Bauman tivesse vivo (ele tá, gente! Falei só pra gerar o buzz), acrescentaria a seus famosos estudos como ''O amor líquido'', ''A modernidade líquida'' e ''O medo líquido'' mais um consagrado título: ''O sabonete líquido''. Não, porque é impressionante o que a gente passa para comprar um negócio desses.



Primeiro que antigamente sabonete era sólido. Não tinha esse negócio de liquidez. A Classe C e D que tá lendo isso sabe do que eu tô falando e entende o sofrimento que é ver o dinheiro escorrer em um banho, porque foi feito em mililitros. Fora que tem os aromas, que são um capítulo bizarro extra.

No meu tempo, tinha sabonete glicerinado (Até hoje não sei que diabo é isso, mas foda-se! Era glicerinado, ok? Tava bom assim), também tinha sabonete com cheiro de rosas e de coco. Clássicos da industria saboneteira. Aí começaram a avacalhar, puxar para o lado dos sabores. Sabonete de camomila, sabonete de erva doce, sabonete de capim limão... Gente!!! Se for pra entrar no mérito dos chás, faz a droga de um sabonete de Santo Daime, que a pessoa já fica com a miração de uma pele macia, protegida e hidratada.

Falar nisso, inventaram de segmentar sabonetes, que nem fizeram com shampoo. Agora tem sabonete para pele sensível, sabonete para pele seca, extra-seca, normal, negra... Que racismo é esse de pele normal e pele negra? Também não tem sabonete para pele mameluca, nem parda como a minha, por exemplo. Tem que ver issaí...



Segundo, que, como é que eu vou saber, do alto de minha aridez epitelial, se minha pele é extra-seca ou só seca?  Esses sabonetes populares acham que a gente tem a técnica? Acham que vão nos curar com um quarto de creme hidradante?  Até porque, galére, geral gosta de exagero, doses cavalares! Deixa de miséria! Joga mais hidratante nisso aí, põe no rótulo ''Agora com duas copadas de hidratante, mais vitaminas D e Ferro''. Pronto! Resolvido o problema!!!

Inclusive tenho um conselho para a indústria de sabonetes populares: abram o oho e subam o preço! Agora que houve um considerável salto econômico na massa, todo mundo inventou de comprar Natura pra provar que pode mais. É um tal de um kit de cinco sabonetes por dezoito reais, de vários cheiros diferentes... Além de pagar mais, a criatura fica naquela espera de um mês, sem ter com o que se lavar. Um masoquismo com cheiro de limão e macadâmia - os que vendem mais! Bom que a galére nem sabe o que é macadâmia, mas tá lá, firme e forte, passando no corpo.



Legal que esses sabonetes da natura se pagam. É um negócio infinito... Tenho certeza que jogaram extrato de Niemeyer e óleos essenciais de Hebe Camargo naquela porra. Não acaba nunca! E aquele de neném, que fala ''Macio como a mão da mãe da gente''? Mano, se soubessem como eu apanhei da minha mãe, eles tirariam a mercadoria toda das gôndolas.

Ah, mas o importante é que o sabonete sempre esteve conosco, dando cheiro ao zeitgeist que lhe cabe. Não importa o valor, sabonete desperta nossa memória olfativa e tem o poder de resgatar lembranças - boas e ruins. Mas nada que um bom banho não lave...

Okey? Então Ok.

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