sexta-feira, 25 de março de 2011

A Classe C e eu


Como alguns já sabem, sou uma Classe C puro sangue. Um dos motivos pelos quais saí da moda e entrei para a comunicação foi meu histórico de descobertas do mundo pela propaganda, porque ela tem esse poder sobre nós, emergentes do social!

Fui uma criança regada a desejos de coisas que eu via e não podia ter. Só de vez em quando, se sobrasse dinheiro, claro. Um dia meu pai falou: ‘’Quando as coisas melhorarem, vamos comprar até sucrilhos e gel de cabelo, pra ir todo mundo bonitinho pra escola’’. Essas declarações, apesar de engraçadas hoje, enchiam a gente de esperança, e olha que o gel era uma coisa muito, muito sci-fi para minha família.

Computador jamais! Minha mãe dizia que era do capeta, até que ganhei um concurso de redação no Instituto Ayrton Senna e tive o meu. Isso, podem culpar o Instituto Ayrton Senna por eu ser o que sou.



Mas então, automaticamente, o PC passou de demoníaco para oráculo da vida. Em 1996, quando os patins viraram moda, passei por um de meus piores momentos. Já existia crédito para os pobres comprarem as coisas, então, todas as crianças do bairro andavam de patins, menos meus irmãos e eu. Lá em casa, o pensamento ainda era o de crise e minha mãe tratou de implementar plano de mídia from the hell sobre patins:

-       (Jan - Mar) Era do demônio;
-       (Abr - Jun) Quebrava as pernas das crianças;
-        (Jul – Set) Era moda e ia passar logo;
-       (Out - Dez) Quando eu trabalhasse para pagar um eu teria o meu.

Paremos aí. Muita coisa passou pela minha vida sem que eu pudesse experimentar, sob alegação de que, quando tivesse dinheiro, eu teria.  Aí era um pânico, porque eu me via velha, caquética, aprendendo a andar de patins, sozinha, enquanto os resto dos velhinhos estaria em outra vibe.
Hoje tudo mudou para a Classe C, porque ela passou a ter esse nome. O C, que não vem mais depois do A, nem do B. O C, que vem de Consumo. Dominamos o mercado e somos dominados pelo hedonismo. Eu como até sucrilhos, gente!

                                     

Não há como negar que a melhoria social nos libertou da privação. A Classe C compra e compra muito porque quer pertencer ao mundo. Tudo é lucro. Tudo é colorido. Aliás, quanto mais colorido melhor. Tudo é comemoração, porque comprar é uma alegria só.

A Classe C preza a novidade da inclusão, os benefícios funcionais e o prazer que um produto pode proporcionar. O mundo rascunho, descartável, é uma descoberta para esse público. A Classe C ainda não digeriu por que os diretores de arte e os publicitários cool, que vão para a Disney com a família, para Bariloche com os amigos e para Paris com a namorada todos os anos tanto adoram o minimalismo e as formas limpas. O mundo da Classe C não tem formas limpas, porque ela quer ver a abundância bem representada.



A Classe C quer fazer parte, daí tanto investimento em imagem. Precisa ser cheirosa, usar roupa da novela, saber as musicas do momento, colocar silicone em vinte vezes... Porque a imagem virou uma forma de inclusão tão importante quanto a educação.

Sou infinitamente grata ao universo por vir desse berço das descobertas do consumo e ter a chance de trabalhar com comunicação de consumo. Tomara que essa feliz coincidencia sirva de alguma coisa no meu trabalho um dia.

No fim das contas, o Leão em Cannes não vale nada se não agradar quem mata um leão por dia.

Okey? Então Ok.

domingo, 20 de março de 2011

O Ônibus.


Como muitos sabem, realizei recentemente um dos maiores atos de coragem da pós modernidade: eu mudei de emprego. Modifiquei toda uma rotina e saí de uma zona de conforto (não, eu não trabalhava na Augusta!), em prol de novas experiências e aprendizados e crescimento profissional. Mas isso não é o foco do post de hoje. O foco do post de hoje são os ônibus.
 
Tenho TRÊS opções de ônibus para chegar até a firma nova:
1) O Perdizes A (não sei a segunda palavra, mas deve ser desses nomes indígenas com que batizam as linhas que passam por bairro pobre).
2) O Perdizes M (idem)
3) E o Apiacás (que é indígena e homônimo da rua onde fica minha agencia), mas não pego porque é amarelo. Vai entender...
A maioria das vezes, pego o Perdizes A, que é azul-facebook, sempre no mesmo horário. Quando escolho essa linha, costumo sentar próximo a um pôster da Hebe sorrindo, com aquelas plásticas e aquelas jóias opressoras. No texto, uma mensagem para a classe desfavorecida: ‘’Saúde não tem preço’’. 
Vindo da Hebe, que não se livrou de um câncer seríssimo no SUS, fica meio desconexo. Mas Ok, Hebe é diva.
Em frente ao pôster, sagradamente senta uma gorda comendo coxinha de palmito, o que me irrita profundamente, uma vez que nem deveria existir qualquer outra manifestação de recheio de coxinha que não fosse frango. Gorda incoerente! Aí vocês me perguntam: tia Leeeeila!!! A senhora fica olhando o recheiooo?
Fico. Fico e sempre é palmito se querem saber. PAL-MI-TO!
 
Passando no heavy centro, ali pela avenida São João, percorro todo um viaduto com seus moradores. Santo Maluf! Não fosse por ele, onde essas pessoas poderiam morar, heim? Aí sim, vi vantagem! Em determinado trecho, uma pichação interessante: ‘’Nóis rouba, nóis trafica, nóis ama. X-TUDO e Loirinha, é nóis que ta’’.
Embora do esgoto, qualquer mulher choraria de emoção com uma declaração de amor assim. O cara se deu o trabalho de se arriscar, pixar o muro, falar que rouba e trafica, só pra assinar com o próprio...ham... eu lírico e o de sua respectiva. É muito amor, gente.
Chegando próximo a Perdizes, mas ainda embaixo do viaduto, tem um trecho com cheiro bem estranho. Cheiro de lixo. Lixo com banana podre. Aliás, na minha opinião, todo lixo tem cheiro de banana podre, aí você vai ver e não tem banana nenhuma. É sobrenatural! E sempre ao lado do lixo, um mendigo com cheiro de urina e sovaco. 

Quando rezo para o cheiro ir embora na primeira marcha de partida que o motorista der, Murphy aparece triunfante e o mendigo adentra meu ônibus, sentando no banco a meu lado. O mendigo vai até umas paradas próximas às minhas, olhando para minha cara. Eu nem ligo, vou cantando alto meu Fagner no fone de  ouvido e ta tudo certo. Pra isso que tem meu Charisma que tirei pedido na revista AVON, pra retocar nessas horas. Acho chique.
Depois é só alegria. Chega rapidinho. Digo mais: andar de ônibus não é o fim do mundo, como muita gente pensa. É interessante e agrega pra quem gosta de observar o mundo e viajar nas ideias. Todo mundo devia fazer esse exercício de passividade uma vez na semana. Cansativo é querer ser o que não é. Chique é ter assunto e opinião formada.

Okey? Então Ok.




 

sábado, 12 de março de 2011

O Carnaval - Resumão segundo o site EGO

Prometi perante os olhos de Betty Davis (hoje só o buraco e a catinga) que não mencionaria essa bagaceira festiva do início do ano. Hesitei, esperei terminar e só então avaliei o tamanho do estrago e o número de vítimas da folia. E olha só quem fez as vezes de cavaleiro do Apocalipse do Carnaval 2011 antes de mim: o site EGO!!! (Plim! Plim!)

Vamos avaliar fotos e legendas especialíssimas, além de matérias imperdíveis que esse grande portal de notícias relevantes trouxe até nós, telespectadores e internautas desprovidos de senso crítico? Então vamo!

#Se você gosta de gente famosa, bonita e bem sucedida, se liga nessa!




Sabe o que me faz gostar mais do EGO? É essa prestatividade para com o leitor, até porque, se não fosse por ele, ninguém ia lembrar quem é a criatura na foto acima. Acho que nem ela mesma, afinal não há um sobrenome artístico para um participante de reality show. Taí, Juliana BBB4 que não me deixa mentir. Arrasa, fia!


Ele poderia ter dado uma voadora subzero, ou um peteleco na orelha. Ele poderia ter levado ao motel e ter dito que confundiu com uma mulher porque sofre de hipotireoidismo. Mas não, caro leitor! Não! Ronaldão escolheu a forma mais suja de humilhar nosso já humilhado pelo noticiário Edmundo Animal.  Golpe de mestre esse que vemos na foto. ''Batche, bitch!'' - Egípcia nele, Ronaldo!


Não basta ser indigente, tem que ter uma tonalidade de cabelo definida, lóóóógico. Não quero nem saber o que tava acontecendo na parte inferior destes corpos, para a mocinha exibir tal semblante. Xapralá. :)


Ôôôô, Rooooger! Quem mandou tu incorporar a Helena Ranaldi, rapaaaaz? Taí a coitadinha toda cuspida (não, porque eu quero acreditar que isso seja cuspe!), se colocando diante de tudo e de todos. Mulher, vá se lavar, vá!? A gente espera, né, gente?


Vejam com atenção a legenda desta foto. Agora me digam: vocês sabem o nome disso? O nome disso é MALDADE!!! Deboche do look humilde, quiçá despreparado de nossa amável Luana Piovani. Ainda por cima frisaram sua condição avulsa em pleno Carnaval, justo na época em que o boy foi ali, comprar cigarro. Solidarizo-me, pois sei como é isso.


Luiza Brunet, bárbara, com esse look de Rainha de Bateria (ela é minha preferida, falei!!!). Uma coisa é ela ser uma deusa que você mantém, outra é fazer a linha humilde que vai rezar o terço na casa da Dona Clarice e na volta passa na padaria pra comprar 200g de mussarela. Não orna, mulher. Tome tendência!


Graaaande @angbismarchi !!! Uma musa inspiradora em todos os sentidos! Nem vou comentar, pois é como dizem meus amigos fotógrafos: NÓS TEMOS A FOTO!

Camarote Brahma também é glamour e influência! Vejam só os ''Bam Bam bans'' dessa lista maravilhosa de convidados! Geisy Arruda era puro charme e sedução com esse truque de mão na cintura e megahair no suvaco pra esconder as gordurinhas do braço. A gente que é mulher sabe como é isso, gatam!!!

 Taí a sempre simpática e linda Ana Hickman que, para o bem ou para o mal, caiu no samba e hoje veio de azul, toda trabalhada na bengala pra homenagear o Rei Roberto Carlos. 


E vamo encerrar com a grande ironia do Carnaval, que é colocar a ex mulher do Belo presidiári de rainha de bateria do Salgueiro. Éééé! A bateria que se vestiu de Bope. Aí sim, vi coerência!

Mas coerência mesmo teve o #CamaroteDolly com presenças mais que VIPs! Depois postarei para vocês um resumão dessa, que foi a melhor de todas as coberturas do carnaval 2011. 

Okey? Então OK!


quinta-feira, 10 de março de 2011

A Amizade

Eu sei que não diz respeito a vocês, porque é problema pessoal meu, mas eu PRECISO escrever aqui. Estou irritada, magoada e me sinto na necessidade de descontar em alguém e esse alguém, caro leitor, é você. PAH!.


Vamos começar pelo dicionário!

O Dicionário é um livro que só conta o prático das coisas, sem muita profundidade e sem ser relativo. Ele fala o que as pessoas querem ler para encostarem a cabeça no travesseiro em paz.
De acordo com o dicionário, amizade é um relacionamento humano que envolve, mutuamente, afeição, lealdade e até altruísmo. É a tendência de desejar o melhor para o outro. Simpatia e empatia. Honestidade. MY EGGS EXPRESS.

Está claro que quem definiu a amizade no dicionário não tinha amigos, porque amizade vai além desse mar de rosas... A Bíblia inclusive (falou a Testemunha de Jeová agora!) tem uma frase pouco melosa sobre, mas deveras original: ''Quem encontra um amigo, encontra um tesouro''.

Nem todo mundo está apto a ser amigo de todo mundo. Normal. As pessoas podem se gostar, se admirar, sair, emprestar a roupa, emprestar grana, ir ao cinema e comentar quão gatinho era o vilão, tomar um chopp, falar besteira, jogar fifa2011... mas nem todo mundo consegue levar a diante uma amizade. Nem todo mundo tem preparo físico pra isso.

A palavra amizade tem um peso tão forte, que exige muito da musculatura da paciência. Paciência para entender que o seu amigo não é a pessoa mais perfeita (por dentro e por fora). Paciência para saber que a criatura é indecisa, às vezes chata, deslumbrada, vaidosa, explosiva, passiva, autoritária, otária, filhadaputa... Enfim, paciência para um monte de coisa feia que você invariavelmente vai encontrar em outras pessoas e não vai tolerar, mas que no seu amigo você abstrai! É como se o amigo fosse um ensaio da vida e, quem gosta de viver, gosta de ter amigo por perto. Porque a vida é foda, mas é divertida.



A graça da amizade é justamente o grau de paciência que você tem com um ser tão escroto e simultaneamente tão admirável. Porque o amigo admira. O amigo consegue ver o lado bonito se sobressair sobre o lado ruim, sem máscaras e filtros. A amizade não tem Photoshop.

Aliás, falando em termo moderno, tem um que está super em alta e que as pessoas praticam tanto, mas tanto, que elas acabam perdendo amigos sem se sentir. O famoso: ''PREGUIÇA DA PESSOA''. Quando você opta por ter preguiça ou vergonha alheia, você condiciona um ser humano (com as mesmas falhas que você) a ser algo descartável e desinteressante. Você vira um negligente da sua vida.

Pode até ser um defeito da minha geração mesmo, a geração JPG, que decupa as melhores coisas e dá Control+Z ou mesmo DELETE no que acha errado ou fora do padrão. Mas a vida real não é assim.

Um exercício que eu tenho praticado é a PREGUIÇA da PREGUIÇA DA PESSOA. Tem dado certo, aos trancos e barrancos, porque eu admito que não sou nenhuma Madre Tereza (embora ache o look dela fechação!). Talvez hoje eu dê tanto valor a isso por estar longe da minha gente. Aquela, que me conhece de vários carnavais e sabe como eu sou, sem carão, sem paixonite de amiguinho recém apresentado.

E quando você está longe das suas pessoas, você fica mais em evidência para que os outros lhe amem ou lhe odeiem, porque seus defeitos estão mais em evidência, como uma autodefesa. Toxinas sociais eu acho. Newton saberia explicar isso melhor.

E não, não é coitadice. É só um desabafo desses, de blog, que deu vontade de falar aqui, com o coração apertado. Não foi um dia bom, mas foi um dia necessário.



Síntese:

- NÃO SE EXPONHA DEMAIS SUAS CONQUISTAS E FELICIDADES PARA AS PESSOAS QUE CONVIVEM COM VOCÊ. CONVIVER NÃO É GARANTIA DE NADA.

- SEJA CONFIÁVEL SEMPRE, DE CORAÇÃO, MAS NÃO ESPERE O MESMO DOS OUTROS

- DEIXE QUE A VIDA SE ENCARREGA DE LHE SURPREENDER. FAÇA O SEU, NO CAMINHO DO BEM SEMPRE, SEM PUXAR O TAPETE DAS PESSOAS, QUE COISAS BOAS VIRÃO

- VIVA CADA MOMENTO COMO SE FOSSE O ÚLTIMO COM SEUS AMIGOS.

Esse post foi uma homenagem a quem sempre esteve do meu lado e que hoje não está mais e faz muita falta, o Luiz. Também à Karol, que tão longe... =/

Okey? Então Ok.

sábado, 5 de março de 2011

A Segurança Pública


Aposto meu hímem como você já se deparou com aquelas tias em  fila de supermercado comentando perplexa, enquanto lê a capa de Veja: ‘’A violência tá impossível, né!?’’.  
Se a violência tivesse impossível, não viraria capa de revista. Até onde eu sei, só vira capa de revista coisas possíveis. Tá...tem a Playboy também, mas a Playboy não conta. Tá, ta bom, meu himem também não conta como vantagem. Vou substituir a aposta por um pacote de Cuzcuz Coringa então - esse rende mais!

O foda é que, apesar do noticiário ser escroto, a população só reclama e não faz nada para construir uma sociedade mais digna e humana. #ALOKA

Eu mesma critico. Por exemplo, sou contra construírem esses presídios de segurança máxima. Quê que tão segurando ali? Só se for a qualidade da telefonia móvel no Brasil, porque o sinal das operadoras só pegam direito na cadeia. Já no meu aparelho... O bandido deve falar ao celular muito bem, obrigado, enquanto cava um túnel. No nosso caso, é só entrar no túnel que a ligação corta.

Até criei uma assinatura de campanha específica pra esse nicho: ‘Bandido bom é bandido Infinity Pré. Porque na TIM a comunicação é sem fronteiras.’



Agora, quando o assunto é o cidadão de bem, a coisa muda. Tira pela entrada nos bancos, com aquelas portas giratórias traiçoeiras. Elas iludem você no intuito de avacalhar com a sua moral. Não pode celular, não pode chave, não pode AK-47, não pode nada naquela porra!

Mas você tenta mesmo assim, porque o segurança é treinado para lhe incentivar. Cada passo é uma vitória, porque a porta não apita no começo. Enquanto isso, todos olham, até  que você chega no último gominho.

‘Pééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééénnnnnnnnn!!!’- Agora é oficial: SE FUDEU.

#TodosRi

Deve haver um circiuto interno de câmeras monitorado por seguranças com um joystic escolhendo a hora exata de sacanear.

A coisa é tão humilhante, que é capaz da sua mãe um dia lhe lembrar de sair de casa em jejum. Pro leite rico em ferro não fazer efeito.



Enquanto o Brasil continuar como está, as coisas não mudarão (ah vá!). De que adianta cobrar mais verba para segurança, se elegemos políticos corruptos? De que adianta fazer campanha pelo desarmamento, se elegemos para presidência um canhão? Tem que ver issaí...

Devemos aproveitar e fazer bom uso da nossa liberdade, que custou tão caro a nossos pais e avós. A chance de mudança está em nossas mãos.

Porque errar é humano. Persistir no erro, já é dois ano pra cima em regime semi aberto.

Okey? Então Ok.