sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os Programas de TV.

"Oi, auditório mais lindo do Brasiiiiooooo!!!  Ela não é linda, gente? Tá cada dia mais jovem! Hebe, sua gostosaaaa" - é com esta declaração clichê que eu começo o post de hoje, bastante aguardado, por sinal.

Programas da TV formaram meu caráter e o de toda a geração Y. Cresci maquinando possibilidades de um dia ser como os apresentadores de nossas queridas emissoras abertas. Lógico que, na condição de aspirante a diva, sempre quis algo além de minhas contemporâneas. Enquanto todas queriam ser Paquitas, eu queria ser a Hebe Camargo.

O motivo é bem obvio: a Hebe usava jóia grande. Todo mundo ia com roupa de casamento pra Hebe. A Hebe distribuía flores da Catia Janini para o público - eu nem sabia que diabo era Catia Janini, mas só em ser Catia Janini já tava bom.

Então eu me mentalizava descendo uma escada de LED com gelo seco, pegando nas mãos das pessoas, sendo recebida por dois Go Go Boys e tomando um café da manhã reforçado que nem a Xuxa. Por falar nisso, que café da manhã era aquele, gente? Quem é que nessa face terrestre corta melancia, mamão, melão, maçã e carambola em sentido zigue zague só para satisfazer o próprio ego?

A Xuxa não tinha noção da caristia que era aquilo. Nunca que a minha mãe ia gastar moraaaango no café! E suco de jarra de vidro, gente!? Lá em casa só tinha suco de jarra de vidro quando vinha visita. A gente já sabia que vinha alguém por esse sinal e pela salada de travessa. Era chique.



Outro programa bacana era o do Gugu. Quando você pensava que ele já promoveu todas as faixas possíveis do CD do É O Tchan, ele conseguia se superar e lançar uma nova, e mais outra, e outra...
Fora o fato do cara ter vencido preconceitos. Ninguém acreditava na virilidade do Gugu, por ele ser um homem de voz de coelho da páscoa com nome pueril. Aí um dia ele engravida uma mulher, mostrando para todos que era um varão como qualquer outro.

Uma das coisas que eu mais gosto no programa do Gugu é a câmera transvaginal, que revela o endométrio de suas assistentes de palco, enquanto elas dançam sensualmente ao som dos seguintes versos:

"Meu pintinho amarelinho / cabe aqui, na minha mão / na minha mão / quando quer comer bichinhos, com seus pezinhos ele cisca o chão" (Oscar Wilde)

Também curto quando ele vai lançar a revista masculina cuja capa foi estampada por uma de suas convidadas. Na publicação, ele põe cuidadosamente a unha do dedo mindinho para tapar as genitais. Em seguida, anuncia a matéria dos padres cantores e o helicóptero mortífero de Silvana Kieling, que provavelmente sobrevoará algum terrível acidente.



Mas nada supera os quadros de cunho social. São transformações, dias de princesa, reenvio de nordestino para a terra natal... Inclusive acho uma injustiça mandarem meus conterrâneos de avião para casa. Particularmente, defendo que o retorno seja como a ida - caminhão mambembe lotado. O motivo é simples: nordestinos vêm pro Sudeste de pau de arara e não de Gol justamente para fugir da fome.

Nordestino é assim: na seca, se apega a São José. Na estiagem, a Santo Expedito. Na chuva castigando, a São Pedro... mas com um maxi goiabinha para passar por 3 conexões, meu povo, você perde até a fé.

O importante é que nos quadros voltados ao social, sempre há uma história para comovente para embasar um bom merchan, tudo muito disfarçado na premiação.

"Gugu, nós nos sensibilizamos com a história da menina Kédima Juscilenne, e vamos doar:
(   )UM ANO DE CESTA BÁSICA - Adooooro quando começa assim!
(   )UM KIT DE BELEZA EMBELLEZE - Sempre na coloração louro mel, que num deve sair muito...
(   )UMA CESTA DE BATONS MAXTOM - Não entendo a relação desse prêmio com passar fome.
(   )UM CAVALINHO UPA UPA - desse menos ainda... Aguardo explicações.
(   )UM CURSO PROFISSIONALIZANTE MICROLINS - Porque o mundo vai se acabar em telemarketing e pendrive mesmo...
(   )UM CHEQUE DE 2 MIL REAIS PARA ELA RECONSTRUIR A VIDA - Fé é tudo,, gente.






E, principalmente e não mais que principalmente, a máquina de fazer fraldas. Alguém aí conhece um ser humano que tenha adquirido uma máquina de fazer fraldas? Quem ousa confrontar a credibilidade e a qualidade dos produtos PomPom, Huggies turma da mônica e Pampers? Quem compra? Como uma família sobreviverá vendendo fraldas?  E como uma família sobrevive comprando?

É tão difícil hoje em dia ligar a TV e saber que só se vê notícias ruins. Fome, guerra, catástrofes e o programa da Sônia Abrão assolam o mundo. Ainda bem que existem os merchans para segurar a audiência e "falar de coisa boa". Isso me tranquiliza e hoje eu sei que, por maior que seja a dificuldade que eu passe na minha vida, sempre haverá um Juarez da Tek Pix e uma Aracy da Top Therm para dar um recadinho rápido pra você.

"Porque se a vida te der limões, faça uma limonada no novo Super Juicer Wallita. Sucos frescos, rápidos saudáveis em segundos por apenas dez parcelas de 19,90 - menos de um real por dia."

Okey? Então Ok.

sábado, 6 de novembro de 2010

Os Produtos

Não é por acaso que larguei tudo para ser publicitária: tem coisa melhor que vender produtos e serviços de inúmeras e malucas maneiras e, o que é pior, ver que as pessoas assimilam exatamente assim? Ok, tem coisa melhor que isso, mas eu tô pouco me lixando para a opinião de vocês. Eu gosto de falar de produtos e acabou.

As pastas de dente, por exemplo, são um caso curioso. Primeiro que esses dentistas são uns vendidos, ou vocês nunca repararam que eles recomendam todos os cremes dentais sem a cara tremer? Colgate: recomendam. Oral B: recomendam. Sensodyne... epa! A Sensodyne já gosta de uma polêmica.



De acordo com o comercial, 9 em cada 10 dentistas recomendam Sensodyne. Agora pensem comigo: quem é esse mártir da higiene bucal que se impôs e decidiu ir contra a correnteza? Esse dentista é um tremendo de um corajoso, que desafiou tudo e todos em prol de um ideal:

- "Sensodyne o caramba! Eu uso Jessi Cristal, com juá e hortelã, muito mais conceito". -


É, caros leitores, esse cara no mínimo deve viver de serviço de proteção à testemunha. A família dele deve tá marcada, mas ele tem um propósito: a luta em defesa da inserção do juá e do hortelã no dia a dia das pessoas.



Particularmente, dá medo de escovar os dentes com uma pasta que mistura ingredientes nada a ver. Bom é que o povo meio que institucionalizou essas misturas: cebolsa e salsa, tomate seco e rúcula, papaya e cassis... Só acho essa última dupla meio deslocada, porque cebola e salsa, beleza, põe num tempero. Tomate seco e rúcula, de boa, faz salada. Mas... Onde é que você vai usar papaya e cassis? Aliás, que porra é cassis, gente?

Eu nunca vi um cassis. Eu nunca vi uma framboesa. Eu nunca vi uma baunilha. Páááára! Isso é ludibriar o consumidor. A baunilha é a pior prova disso, porque ela não disfarça. Ela é o sabor de quem não tem opinião formada.

Na bíblia tá escrito que o bagulho tem que ser quente ou frio, morno a gente vomita. Isso vale pra o mundo dos sabores também. Meo, ou você é morango, ou você é chocolate. Se você é baunilha, é porque você é um cara sem personalidade, liga? Inclusive sou a favor de incluir o teste da baunilha em entrevistas de emprego e psicotécnicos, pra saber qual a índole do candidato.

Gente que gosta de baunilha é gente que abre a geladeira nas Americanas e compra sorvete de creme. Creme do quê? Creme do caralho! Sorvete de creme não tem graça, e sempre pede acompanhamento de alguma coisa pra ficar bom: petit gateau, banana com canela... coisa de covarde, de gente dependente. Se seu amigo lhe chamou pra ir na sorveteria e ele pedir sorvete de creme, fique esperto: ele vai te pedir grana emprestada. Não caia nessa!

Também não precisa ter frescura com comida, do tipo:

(*) "Esse suco é natural, ou de polpa?".
(-) "É de polpa. Aceita?"
(*) "Aaaahhh... Não, brigado. Eu só tomo se for natural".



Porco imundo com tendências à subnutrição congênita, a polpa vem da fruta. E a fruta vem da natureza. Agora bebe essa porcaria toda, senão te ponho pra capinar terreno de urtiga de sunguinha da Rosa Chá, seu estorvo - a técnica de capinar nunca falha.

Se tiver com fome, não pense duas vezes e coma. Se quiser uma picanha suculenta e tiver grana só pra um macarrão instantâneo, compre o Cup Noodles picanha. Cup Noodles é como a Geisy Arruda: na foto parece gostoso, mas na real é meramente ilustrativo.

Okey? Então ok.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Prostituição

Há quem diga que a mulher tem mais é que se valorizar. Eu concordo, por isso, fico imaginando se eu fosse puta, quais seriam os valores. Não que eu precise, ou queira (mentira), mas acho importante você saber preços, indicadores de mercado, cotações de esquinas, etc. Vai que um dia... né?

Às vezes tento me precificar, supondo serviços, acréscimos, descontos e pacotes. Sejamos mais diretos: quanto custa um boquete? Um boquete deve custar até mais caro que o restante, uma vez que ele demanda técnica, paciência (quem faz não vê muita graça, vai...), feições de sensualidade (pois é, Brazew!) e fatores de risco.


Não tenho nada contra putas, a não ser o fato de elas viverem melhor que eu: ganham bem por poucas horas, estão sempre lindas e sexyes, têm os homens aos seus pés e, um belo dia, um deles aparece no cavalo branco e fala "Oi, querida! Eu vou tirar você desse lugar, dessa vida".

Agora fala aqui pra tia: quaaaaando que um boy vai chegar na agência, numa daquelas madrugadas pilhadas de job, e vai dizer: "Eu vou tirar você dessa vida"? A puta pelo menos ouve isso depois que termina o serviço. Pelo menos no meu caso quem sente o prazer em se fuder sou eu. Eu gosto do que eu faço, vai... (momento ternurinha).


Eu acho que puta devia ter plano de carreira, porque mais cedo ou mais tarde a vida fica séria. Tem tanta puta tentando a vida política sem deixar de se assumir puta. Lá em Fortaleza, elegemos a Débora Soft vereadora e a Adriele Fatal dePUTAda estadual - ambas trabalhavam na boate Bumbum Dance (do lado da minha casa). Hoje estão na vida política, que é quase a mesma coisa, afinal, elas sempre trabalharam com Programa de Aceleração do Crescimento.

Tem gente que fala que atrizes pornô são putas, alegando que elas ganham dinheiro para satisfazer terceiros com um pecado capital, a luxúria. Se for assim, garçonetes do McDonads também são, gente! Vai dizer que você não satisfaz sua gula com um BigMac?



E moças que casam com homens ricos, engravidam e são obrigadas a ouvir que deram o golpe da barriga? Golpe da barriga elas vão levar depois de 5 anos de casadas, com o tamanho da pança de cerveja do maridão.

Mas é isso, queridos. Todos somos iguais e merecemos respeito, independente do que somos: prostitutas, travestis, são paulinos e fãs do Restart. Só quero que vocês saibam que nessa vida, não devemos julgar ninguém, pois aqui se faz, aqui se paga. Tudo tem seu preço. O meu é R$ 500,00 a hora. Reverberem.

Ok? Então, Ok.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Computador

Não vivo sem computador desde os onze anos de idade. É claro que demorei para ter o meu: minha mãe, não podendo comprar um, dizia que era do demônio.

Aliás, tudo o que o dinheiro não podia comprar, lá em casa, era endemonizado. Patins: do demônio. Super Nitendo: do demônio. Disquinho Xuxa Park ao vivo, da Xuxa... e por aí vai. Maldito demônio: tinha de um tudo...



Diante das circunstâncias, tive ganhar um concurso de redação do Instituto Ayrton Senna para ter o meu. Lembro que Windows 95 era tudo na vida e eu me acabava no Paint e no Word fazendo cartões de Natal caseiros para enfeitar a casa. Sim, porque eu tinha uma impressora Epson Stylus Collor 300. Vrrrraaah!

Eu achava muito chique aquela coisa toda de caixa de diálogo. Parece que o computador tem vida própria e conversa com você: "Ocorreu um erro número 327 e seu computador precisará ser desligado". Como assim, gente? O que tem a ver o erro 327 com ele ter que ser desligado? Que erro é esse? O que ele faz? Se ligar o computador novamente vai resolver o problema, pra quê desligar?



Mas tem umas caixas de diálogo que são do bem, vai... Adoro aquela que diz "Seu computador pode ser desligado com segurança". Juro pra vocês que quando leio isso sinto uma sensação de limpeza, dignidade e bem estar. É como se eu tivesse passado Vick Vaporub na alma.

Tinha uns medos muito loucos também. O do MS-DOS é bem clássico. Aquele layout preto com letras piscantes em fonte de gosto duvidoso contraía todos os meus nervos. Que nem Setup. Pra mim, Setup ia deletar todos os meus arquivos, ou, pior, abrir alguma coisa do MS-DOS pra eu mexer. Não podia ver uma tela assim que já chamava o técnico. Ele, por sua vez, não podia ver um probleminha que já dizia a palavra mágica: FORMATAR.



Formatar está para o técnico de informática, assim como Virose está para o médico do SUS. Explica, mas não diz nada. Nunca formatei uma máquina minha, sabe por que? Porque pra isso, eu teria de fazer Backup - outra palavra maldita. Por que maldita? Porque Backup me lembrava Setup, que por sua vez me lembrava algo ruim que está por vir. É por isso que eu não vou ao médico fazer checkup, vai que... né?

Okey? Então, ok.