quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Aluguel de um apartamento.

Quando me mudei para São Paulo, em Agosto, havia um plano. Eu dividiria apê por três meses, alugaria um kitinet por seis, depois alugaria um apartamento pequeno e, por último, daria entrada em um maior, sendo dona de uma casa própria aos 25 anos. Mas a vida nos destina surpresas: geralmente em forma duma puta decepção. Isto, claro, se você for filho de Oxossi com Murphy, como eu.

Primeiro porque o fator grana em São Paulo é, como diriam os fenícios, foda. Tudo é muito caro. Se você leu O Segredo de Luisa aos 19 anos e encasquetou que tem espírito empreendedor, saiba que sua vida só terá 3 certezas a partir de então: a morte, os impostos e o salário do seu contador. Em síntese: se fudeu.



Conformada com isso, percebi que kitinets na Maria Antônia (onde moro) têm preço alto, como os apês bacanudos da Avenida Beira Mar (onde morei), em Fortaleza. É absurdo. Pior que sempre vai ter um porteiro com a desculpa Padrão:

''Ahhh, moça! É que aqui tem o Mackenzie do lado, né?!''

Gente, fala pra mim: quem é o Mackenzie na noite? Eu tô me lixando pra isso! Lá só tem playboy filho de fazendeiro que veio do interior para praticar evasão na cidade grande. Inclusive sou a favor do projeto ''Criança fora da rua dentro da escola'' para os Mackenzistas. Mas nem vou me estender muito nisso, porque os estudantes desta célebre instituição de ensino têm sua importância no mercado.O mercado de bebidas.



Fora que o movimento dessa juventude aqui nas redondezas até deixa a rua mais...tranquila, relax e tal. É que é muita maconha, vocês não têm noção! Se são tão moderninhos assim, deviam fumar na mesa de jantar com os pais, que pagam a mensalidade do curso (momento Leila Germano de Trabalho Familia e Propriedade)!!! A propósito, se eu puder dar um conselho para a vida, direi que nunca ouça o que um porteiro tem a dizer em defesa de algo. Porteiros têm duas únicas missões nesse plano: dormir e provar para qualquer mulher que além de cabeça, tronco e membros, ela também tem bunda e peito.

Mas em nome dos meus propósitos, fui firme e abstraí drogadinhos, porteiros fanáticos, aposentados que passeiam com poodles e vestem calção ''santropeito'', de modo a dividir as bolas... tudo! Comecei a caça ao melhor micro apê da região. Então deparei-me com um gargalo logístico do setor imobiliário que eu jamais pensei que poderia existir:
- PESSOAS NÃO PODEM ALUGAR IMÓVEIS -



É, caro leitor... Para que você entenda o ninho de rato em que me meti, preparei um diagrama:

1) Você precisa morar, mas não tem grana para ter uma casa própria então você.... ? ALUGA
2) Para alugar, a imobiliária te pede um...? FIADOR COM DOIS IMÓVEIS DE GARANTIA


PAROU!!!! 
Pensem comigo: ninguém em sã consciência quer ser fiador de ninguém nos dias de hoje - exceto na relação entre pais e filhos, claro. Depois tem o fator DOIS IMÓVEIS de garantia. Quem é que tem DOIS IMÓVEIS dando sopa em São Paulo e põe o filho pra morar de aluguel num kitinet ?????

3) Aí você pede auxílio ao Seguro Fiança da Porto Seguro e...? ELES PEDEM COMPROVANTE DE RENDA.
4) Você dá, então eles pedem comprovante de que trabalha há séculos na empresa.
5) Então eles pedem comprovante de residência sendo somente válido: água, luz e telefone.




PAROU!!!! 
Se você trabalhasse há séculos na empresa, certamente seria promovido e certamente estaria dando entrada em uma casa novinha em folha. Outra coisa: não há, eu disse NÃO HÁ, a menor chance de uma pessoa que está procurando apartamento para alugar em uma cidade nova ter comprovante de residência DA RESIDÊNCIA!!!!!! 

Resumo da ópera: a pessoa que criou essas diretrizes só pode ser mais perdida que tic tac em boca de banguelo. Mas tudo bem, vou até o fim nesse processo, pois posso ter levado NÃOs, posso ter levado fumo, mas se tem uma coisa que eu não levo nessa história é desaforo pra casa. Até porque ainda não há uma casa.

Okey? Então OK.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Foursquare e as Compras Coletivas

O fato de você ler o meu blog implica diretamente em você ter um perfil em rede social. Ninguém sabe dele fora do perímetro Facebook e Twitter (Desconsiderem toda e qualquer forma de orkut. Não é de minha natureza). Partindo disso, subentende-se que você já tenha conhecimento do que vem a ser o Foursquare.

O Foursquare, pra quem não sabe, é um dedurador virtual de pessoas. Ele informa, nas redes sociais, onde você se enfurnou em tempo real - o que interessa em geral só à pessoa que está no local, vamos combinar. A mensagem fica mais ou menos assim: 

''I'm at Mercadinho do Seu João (Av Blablabla Whiskas Sachet, 12345, Bairro da Carochinha, Terra do Nunca) htto://4sq.com/xpto''



O mundo ideal, claro, seria se o Foursquare tivesse uma réplica em forma de botão, como o 'Curtir' do Facebook. Já imaginou o botão 'Quem perguntou?' ??? Aí sim.

Uma curiosidade: a Nasa contou toda pomposa que, em outubro desse ano, o astronauta Doug Wheelock foi a primeira pessoa a fazer check in no Foursquare diretamente do espaço. Agora me diz: tua mãe tá morrendo na fila do SUS por falta de remédio e atendimento digno e os caras tão vibrando por que deram um 4sq da órbita terrestre? Quê que é? Querem um biscoito por isso?

Mas devo admitir que para o Marketing isso tem funcionado bem, em se tratando de retorno. O Facebook lançou uma versão própria de localizador: o Facebook Places (versão própria de novo, né, Zuckerberg? Senta lá). Pelo que se sabe, este tem capacidade de atingir um público maior - 500m em relação aos 3m do Foursquare. A vantagem para a gente, que é obrigado a ler sem o botão do desdém,  é que isso pode ser casado com o Facebook Deals, que traz todas as ofertas mais próximas do local indicado. 




Todo mundo têm acessado mais os sites promocionais a partir dessa mecânica de localização e tem visitado mais as lojas achando que sempre vai ser assim. Que nem acontece com os sites de Compras Coletivas, que não têm nada de localização, necessariamente, mas viciam a gente em descontinho. 

O que me deixa indignada desses sites é que eles lotam minha caixa de e-mail com promoções e promoções e promoções. Gente, se não é nada pessoal, por que eles querem me depilar a qualquer custo??? Juro! Um dia desses veio pra mim:

''5 seções a laser (meia perna) por R$ 247,00'' - Nunca pensei que fosse tão caro amputar...



 Fora que eles dão uns nomes bem estranhos aos sites: Clube Urbano, Peixe Urbano... daqui a pouco o saldão de rock do ITunes vai chamar de Legião Urbana (me lembrem de me autoflagelar por ter escrito essa besteira). O Peixe Urbano, em especial, é o nome mais tosco, porque se você parar para pensar, isso dá margem para a gente achar que existe o peixe rural, o que me remete diretamente aquele sabor Galinha Caipira, mas isso não vem ao caso.

O importante é que o Foursquare é bom pra quem usa (que quer provar a todo custo uma vida social dinâmica e interessante em lugares badalados da cidade) e pra quem lê (que não tem essa vida, é gordo, sedentário, tem vergonha de sair de casa e compra tudo da internet). Mas se você, homem casado, quer rastrear sua mulher, dê-lhe em mãos um cartão de crédito conjunto e passe esse sofrimento só uma vez por mês, ao receber a fatura. 

Okey? Então Ok.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Os salões de beleza

Salões de beleza são a condicional de toda criatura do sexo feminino. Não queremos, mas precisamos passar por lá de vez em quando. É que não adianta ser filha, amiga, mulher, mãe, profissional, se você não tira os pêlos da virilha e das pernas, ou se sua unha não é pintada com Inveja Boa, Café Crème, Baila Comigo, Tititi e todas essas cores abaitoladas de esmalte.

O mundo expurga quem não faz a depilação higiênica (aquela com extensão para a portinha dos fundos), um tipo de tratamento que, por sinal, me mata de vergonha toda vez que vou acertar as contas no caixa:

''Oi... eu vim pagar a conta... foi drenagem, pé e mão e... depilação'' (já deixando o valor certinho no balcão).



Digo isso sempre com o mínimo de decibéis possíveis, para não chamar atenção, mas não adianta.  Caixas de salão de beleza são treinadas com a técnica milenar de acabar com sua moral em  três palavras:

''FEZ O ÂNUS TAMBÉM???'' - ela grita.

Como o universo teima em conspirar para o meu fim, sempre tem um homem hétero fazendo alguma coisa no cenário, para olhar para mim na mesma hora.

''Fiz - digo irritada - mas que diferença isso faz se eu já estou te pagando?''
''É que com o ânus sai 13 reais a mais'', responde a moça sempre muito profissional e em voz alta.

13 reais. Esse é o valor da dignidade do seu ânus. Mas mudemos de assunto, porque os salões de beleza têm muito mais conteúdo do que você imagina. As manicures são um ótimo exemplo!



Toda manicure tem um speech e um ritual padrão para reproduzir conosco. Primeiro elas sentam naquele banquinho de gente submissa, tiram o esmalte anterior, lixam, cortam, dizem que você tem muita cutícula, serram, passam base, pintam no seu tom escolhido e, para fechar com chave de outro, aplicam uma quantidade miserável de óleo secante sem o menor zelo. Não sei vocês, mas eu fico muito, muito indignada na hora do óleo secante. Elas tiram uma porçãozinha furreca do negócio e nem triscam na sua unha! Tenho muita mágoa de manicures. É sério. Manicures dão um jeitinho de perguntar seu nome no final do trabalho, com o único propósito de usar no vocativo ''Obrigada, Leila''. Sinto-me um nada.

Mas o mau está todo concentrado em outra classe peculiar desses estabelecimentos: os cabeleireiros. Antes mesmo de dar bom dia, eles perguntam se você quer hidratar.

''Não, vou só cortar mesmo. Aparar as pontinhas.''

Eles vão querer hidratar seu cabelo sempre: cortando, escovando, lavando, fazendo penteado... qualquer que seja a modalidade, sempre haverá uma hidratação disponível. Cabeleireiros são mensageiros de Deus na hidratação capilar da humanidade. A vida da deles depende disso. Que se exploda o mundo! Você precisa hidratar seu cabelo.

Gente! Pra quê hidratar cabelo e beber água, se eu uso Monange? Taí a Xuxa, que não me deixa mentir...



A melhor parte dos salões de beleza, sem dúvida, fica por conta da distração: as revistas de fofoca, que funcionam como o método torturador de clientes. Eles fazem questão, te entregam em mãos edições de Caras, Quem e Contigo. O intuito é bem claro: não te deixar ler.

Não leia revista fazendo a unha (você borra tudo e não pode pôr a mão no potinho d'água). Não leia revista na maca de drenagem e depilação (você tem que virar de um lado pro outro). Não leia revista fazendo escova (sua cabeça será puxada de todos os ângulos e será impossível a leitura). Em síntese, não aceite revistas de profissionais de beleza. Não dê esse gostinho. Engula a seco cada minuto ali dentro, pois em tempos de guerra vai ser assim.

Okey? Então Ok.

A Geração Digital e os tiozinhos

Para comentar um pouco sobre bonitinhos e bonitinhas das gerações Y e Z, compactarei toda a corja, nomenclaturando-a de Geração Digital. Gente jovem, fina, elegante e sincera com habilidade para novas tecnologias e formas de relacionamento em rede. É bem por aí.

Como todo post da tia Leila, esse é mais um avacalhativo e analítico da visão deturpada que gerações anteriores têm da gente. Porque é fato que temos uma sobrecarga de conteúdo inquestionável se comparado a eles (X e Baby Boomers) e, como todo conflito de ideias, rola uma birra.



Para facilitar a leitura, não deixando um texto chato, concluí que a turma do Renew tem uma imagem equivocada de nosso time. Portanto, preparei uma relação sobre essa relação:

#COMO ELES NOS VÊEM?
Pele com colágeno cercada de touch screen por todos os lados (botão não, porque botão é coisa do passado). Seremos ótimos informantes do mundo das redes sociais, atualizando-os com velocidade sobre as coisas que acontecem no mundo sem que eles tenham o trabalho de pesquisar (ou aprender a pesquisar) em nossas fontes.

Por falar nisso, eles nos enxergam também como ótimos pesquisadores e profissionais rápidos, embora pensem que nossos canais de pesquisa sejam procrastinação pura com isso aqui de vadiagem. Acham, em síntese, que somos repletos de alvos e, portanto, desfocados. Coisa de zona de conforto.



#COMO NOS VEMOS?

Nós somos netos de uma geração extremamente cautelosa e prudente (os Baby Boomers, do pós guerra) e filhos de outra despirocada em drogas, sexo e rock'n'roll que, graças à onda do bom senso que permeou os anos 90, tomou tendência e viu que era tarde demais - enquanto eles viviam o ridículo do exagero, nós nascíamos. Somos fruto de uma sucessão de burradas políticas e econômicas que resultam em mais burradas culturais e climáticas, ou seja, um mundo cu.

Um mundo em que nossos superiores nos vêem unicamente como procrastinos e desfocados - no meu tempo, o nome disso era arrogância. Um mundo perdido, escroto, louco. É por essa falta de orientação e pela vontade de fazer as coisas mudarem, que inventamos um novo mundo: o mundo digital.




 Lá, a gente pode customizar as coisas a nosso modo, adicionar, conhecer, bloquear e excluir pessoas. Isso acontece, porque o mundo real chegou no nível impraticável. No mundo digital, a gente também tem o poder de mudar o foco a hora que quiser, plantar e motivar pessoas do mundo todo de forma rápida por uma boa causa (ou não), falar com gente famosa, virar gente famosa... Internet é parte da alma do jovem da geração Digital e celulares, laptops e IPads são nossa extensão do cérebro.

Bagunça e falta de foco o caramba. No mundo digital, nós temos regras - mais até que no mundo real, diga-se de passagem. Regras de uma vida ideal de sociedade - o todo comanda. Não existem líderes que não foram eleitos por uma comunidade, de fato. Lá nós mentimos e falamos a verdade, bem como sabemos discernir quando outra pessoa faz o mesmo. Definitivamente, a geração digital sem querer escolheu viver bem - na internê somos todos iguais e fim de papo.

                                          

Vivemos o geral. Não é má vontade, ou mediocridade de não nos aprofundarmos em algo. As palavras mágicas são convergir, colaborar e compilar conteúdo e eu acho isso até bem saudável no desenvolvimento cerebral de uma galera que pegou a rebarba do mundo e tem muita coisa pra assimilar.

Aí você pergunta: mas tia, Leila! Que porra é essa? Cadê as piadas? Aí eu respondo: vai tomar no cu. A piada dessa vez é o choque de valores e a falta do crédito que deveriam depositar em gente nova. O mundo é acelerado e, enquanto houver gente cuzona sem a humildade de reconhecer que todo mundo anda mais ou menos pareado, mais posts como esse virão. Aprendizado é via de mão dupla (daquelas, bem indianas) e eu que não me meta a besta de não querer aprender - com quem vem e com quem vai.

Okey? Então Ok. =)

domingo, 19 de dezembro de 2010

O meu Natal

Faltam quatro dias para o Natal. Quatro dias para eu escolher algo realmente mais convincente que uma bandinha de Lexotan ao som de Arnaldo Antunes e esperar o sol nascer.  Minha família está longe. Meus amigos, os de infância, estão longe. Meu passado está longe.




O Natal também foi um dia ruim, porque foi o dia que o Luiz morreu. Faz um ano que meu melhor amigo morreu. Exatamente na madrugada do dia 24 para 25 de Dezembro. Pouca gente que me conhece de redes sociais sabe disso, mas eu tinha uma segunda face, um segundo coração batendo fora de mim. Luiz hoje deveria estar com 22 anos e um sorriso imenso no rosto por eu ter vindo para São Paulo - na cabeça dele, a paulicéia desvairada é o reduto dos VIPs. Sim, ele era bem deslumbrado, mas nada que tirasse seu brilho.

Não tem sido fácil esse tempo longe de tudo o que construiu minha identidade: vida simples, low profile, amigos despojados, pais sem estudo, minha paróquia, a academia (e o corpo magro, que aos poucos vem ganhando volume), meus livros, meus desenhos, meus gatos... Hoje a Leila Germano que escreve nesse blog assumiu um compromisso - quase um pacto de sangue - com o humor.


Eu preciso me manter alegre. Eu preciso me manter focada. Eu preciso me manter cordial com todo mundo sempre, do jeito que eu gostaria de ser tratada. Não tem sido fácil. Uma válvula de escape, lógico, é essa loucura quase milagrosa chamada Internet. Twitter, Facebook, o próprio blog... tudo isso tem me deixado sob controle, mais alguns amigos de São Paulo que pararam para entender o que tenho passado aqui.

É complicado, colega, percorrer uma estrada que você não conhece, usando a educação recebida de casa e um pouco dos instintos. Tenho aprendido na marra a perceber quem me faz bem e quem não faz. Tenho andado apática com as pessoas e me surpreendido, por incrível que pareça, com atitudes simples! Uma boa conversa - sem interesses - é artigo de luxo, um abraço comove, um beijo extasia, um olhar desarma. Estamos na cidade onde tudo isso é mais difícil de se conseguir. São Paulo é um mundo zipado e cada pessoa aqui é um arquivo de extensão diferente. É aqui que me propus a viver e vou vivendo, construindo minha história, dia por dia, tijolo a tijolo...



O Natal é bonito na Paulista, mas não tem mais significado para mim. Pode parecer heresia da minha parte, católica, ex coroinha, ex coral de igreja, ex liturgia... Pode parecer heresia, mas é só tristeza mesmo. E que Deus perdõe minha sinceridade, mas o Natal hoje é só saudade, inclusive do tempo em que eu contemplava Jesus menino, na manjedoura.

Jesus menino, ele me entende. Porque nesse Natal, quem vem ao mundo - o zipado - sou eu também. Esse é meu primeiro Natal em São Paulo. Esse é o primeiro Natal da minha nova vida. E que eu nunca perca os calos da antiga, que me trouxeram até aqui. :)

Saudades mãe, pai, irmãos, vó, Karol, Juarez, Alvinho, Júnior, João e todo mundo que passou pela minha história e nunca sai dos meus pensamentos. Breve a gente se reencontra.



E vocês, leitores, não esqueçam de mandar Papai Noel tomar no cu. Não esqueçam de viver o que o Natal mais traz de bom: a VIDA. Abracem seus pais e amigos por mim e digam o quanto os amam.

Okey? Então OK.

=)

Um Feliz Natal a todos.

sábado, 18 de dezembro de 2010

As Novelas

Você é brasileiro, trabalhador, tem mais de 18 anos e não tem grana suficiente para bancar programaas culturais quase todo dia? Então você é um assíduo telespectador de novela. Parabéns.

Se você assiste novelas, provavelmente sabe bem o que é ficar feliz com a felicidade alheia, triste com a tristeza alheia e mandar um aparelho de televisão ir à merda quando o casal de mocinhos da trama se separa (o que não acontece com os aparelhos Sharp, porque não se chuta cachorro morto). Resumindo: não temos estrutura psicológica para aceitar a perda num bom enredo.



Os responsáveis por isso são os autores e diretores e, de vez em quando, o elenco. Eles fazem todo um combinado de produção, interpretação e roteiro parecerem trabalho feito em encruzilhada. É batata: passa a novela e no dia seguinte todo mundo tá comentando. Legal isso, né? Não! O nome disso é escrotice!

Não sei se acontece só comigo, mas eu sei toda a fórmula de sucesso das novelas e mesmo assim continuo assistindo. Por exemplo, ninguém tem plano de saúde no núcleo rico. Todo mundo tem o médico da família. Uma coisa assim bem anos 30. É claro que estamos falando do Doutor Moretti.



Quando o Dr. Moretti não resolve, é caixão (literalmente!). O mais engraçado é que quem vem dar a notícia do papoco não é o próprio, mas sim o médico novinho que é irmão gemeo do Cesar Tralli."Fizemos tudo o que foi possível, mas..." - ele diz. Nessa hora, todo mundo se abraça. Fosse no SUS, seria diferente:


"287! Quem é o 287? É o senhor? Ó... seguinte. O seu filho veio a óbito. É, meu senhor, ele morreu. Tão despachando o corpo lá na ala C, vá lá. Num esqueça de pegar sua fichinha ali, ó.''


Falando em presunto, as refeições na TV são sempre a cara da aristocracia, diferente do que acontece na vida real. Lá em casa, quando um bolo está saindo do forno, todo mundo tasca logo uma fatia. Nas novelas não. Tanto no núcleo rico quanto no pobre, vai haver sempre um bolo inteiro sobre a mesa do café da manhã. Tudo estaria OK, não fosse o fato de ninguém comer. O desperdício não acaba aí. Além do bolo, da jarra de suco, das torradinhas com três opções de patê e do povo limpar a boca com guardanapo de pano usado sem o menor pudor em refeições rotineiras, temos um problema muito mais grave: a Marcinha e a Renatinha.



Quem são Marcinha e Renatinha? São as duas maiores responsáveis pela subnutrição da juventude classe média da teledramaturgia brasileira. Sim, porque você tem um café da manhã colonial sobre a mesa, desses de convenção de firma em hotel, aí chega a atriz anoréxica, capa da Gloss, senta, pega uma uva e diz:


''Oh! Meu Deus! Estou atrasada!'' (jogando a uva na boca)
''Espera, filha! Come direito...'', diz a mãe socialite.
''Não. Marquei de ir estudar na casa da Marcinha''.

O figurino é um capítulo a parte. Já reparou que ninguém anda descalço na própria casa? Pelo contrário, eles andam pelos cômodos com a roupa que eu uso pra ir à missa. Acho chique.

Outro detalhe importante do núcleo rico é a empresa. Sempre haverá uma empresa para conduzir os negócios da família. O problema é que começa novela, acaba novela e o público nunca sabe exatamente o que a empresa faz. E, mesmo com 60% do elenco sendo acionista, ela em determinado momento abre falência.

Para salvar a bagaça, claro, temos a matriarca da família. São coroas tão chiques, tão chiques, que não têm o menor vestígio de vó. Por exemplo, vocês imaginam a Fernanda Montenegro fazendo bolinho de chuva, ou pedindo 200 gramas de mussarela na padoca? Não orna.



Manoel Carlos é caso extra! Tirando o fato de todas as mulheres mais fodonas do mundo se chamarem Helena (nesse contexto, Deus se lixou pra mim), temos um fator crucial que divide tudo no pensamento Nietzcheano do bem e do mal: o Leblon e o não-Leblon.

- Porque no Leblon, todas as domésticas falam português correto e têm cara de donas de uma rede de salão de beleza;
- Porque no Leblon, as pessoas são leitoras proficientes dos clássicos da literatura brasileira;
- Porque no Leblon, a instituição da família tem peso tão forte, que mãe e filha dividem o mesmo macho;
- Porque no Leblon, toma-se água de coco e suco e deixa-se a metade;
- Porque no Leblon as pessoas falam com sotaque de São Paulo;
- Porque no Leblon, o problema da violência é resolvido com passeatas nas quais os manifestantes se vestem de branco, sensibilizando bandidos, polícia e Estado'
- Porque no Leblon, ninguém fala palavrão e os xingamentos se restringem a ''Cafajeste! Idiota! Bobo! Cara de Mamão!'' (a novela Malhação certamente é gravada no Leblon).

Tudo sempre igual. Romances, traições, assassinatos, cenas cômicas e mais um monte de ingrediente que puxa nossa atenção durante mais ou menos 6 meses. Muitas histórias acontecendo em paralelo para acabar em um mesmo fim: casamento, seguido de gravidez, seguido de cena de confraternização final com muitos bebês e uma assinatura tosca de FIM.

Mas não podemos negar que o Brasil sabe fazer bem a coisa. Não há em todo o mundo melhor produção de novelas que aqui e no fim das contas isso gera emprego e entretenimento para milhares e milhares de pessoas. Assistamos novelas, mas mantenhamos nosso senso crítico aguçado: é bom para o moral.

Okey? Então Ok.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Amigo Secreto

Fim de ano náo é somente encontros, alegria e oba oba. Tem o lado negro da força e aí que mora o perigo. Começando por algo que persegue qualquer indivíduo com vida economicamente ativa há milhares de anos: o amigo secreto.

Você planeja, centavo a centavo, o que fazer com a graninha que entra: tirar o nome do SPC, esperar as liquidações de janeiro, pagar a fiança do seu irmãozinho maconheiro... Mas a vida lhe reserva algo novo.



Tudo começa quando o colega mais pro-ativo da firma decide pensar no bem comum e fazer uma comemoração pelas conquistas do ano. Sem que você perceba, seu nome foi inserido em uma lista de nomes posteriormente dilacerada em papeizinhos. É o sorteio. É seu fim.

A partir daí a chinela de Murphy canta. Muito provavelmente você sorteará alguém desconhecido. Para desonerar, estipula-se um valor, geralmente em torno de ''a partir de R$ 60,00''.

HORA DAS COMPRAS: Agora são só você e o papelzinho. Começa uma corrida terapêutica para descobrir mais sobre tal pessoa, sem ter que consultar os colegas e estragar a surpresa. Em busca de vestígios de personalidade, você analisa o nome. Se for Jéssica Michelly, por exemplo, trata-se de uma típica classe C, cuja mãe sempre quis ir aos EUA, mas não tem condições e se contenta com um hidratante Victoria's Secret. Mas não. Murphy é implacável e o seu amigo secreto terá um nome blasé: Carlos, Roberto, Maria... Fiquemos com o exemplo de um Carlos.



O que faz um Carlos? Do que um Carlos gosta? Para onde os Carlos migram no inverno? Nunca espere nada de um Carlos.  Eles estão na portaria do seu prédio, no frigorífico, no alto escalão de uma empresa... Acho que quem escreveu aquela passagem bíblica ''Rache uma lasca de madeira e eu estarei lá. Levante uma pedra e me encontrará'' foi um Carlos.

Certo. Desistamos do nome e vamos à técnica mais traumatizante: dar algo caro para impressionar e cobrir o desleixo da escolha. Então você entrega o dinheiro na mão de alguém cujo gosto você confia cegamente. Um encarregado.

A HORA H: Você ainda não viu seu presente. Seu encarregado mandou embalar muito bem e resumiu a compra em um otimista ''AH! O CARLOS VAI AMAR!!!''. Dada a largada, Ferreiro Rocher, Agenda,  livros da Lya Luft e DVDs do Ritmo Quente são entregues sem o menor pudor. Sim, você calcula o custo de cada um e percebe que foi o único que pagou a cota mínima.

Há uma verdadeira carnificina mental a cada julgamento:

''Que escroto! Ele trouxe uma caixa de 15cm x 10cm embalada num papel dos ursinhos carinhosos! Tomara que não seja eu.'' ou ''Caramba! Uma sacola da Natura. Aposto que ela tirou pedido das últimas páginas. Mesquinha...''.



Para segurar a audiência, o inventor do amigo secreto criou a ''descrição suspense'', embasada em uma singela rasgação de seda. O nome disso, companheiro, é ética.

(   )''É uma pessoa boa.''
(   )''É uma pessoa inteligente''
(   )''É uma pessoa engraçada''

Eu queria um dia ir a um amigo secreto em que os participantes falassem, sem papas na lingua:


''O meu amigo secreto é um escroto filho da puta. Não comprei NADA pra você, porque você me deve uma grana. Um beijo, Carlos''.

Chega sua vez. Você anuncia, genericamente, o indigente sorteado:

''A pessoa que tirei é muito bacana e importante no nosso grupo. O meu amigo secreto é o Carlos''.

Carlos se levanta e você percebe que não se resume só ao nome - ele também tem cara de figurante. Carlos abre o pacote. Tensão. ''Poxa, obrigado - a voz dele também é de gente comum -.  Um saleiro e um pimenteiro em formato de ampulheta! (Caralho! Invcntei isso agora. Seria incrível se existisse!!! Sou foda. Ok, voltemos ao texto)''.
Agora a sequência lógica. Você:

1) Fica muito feliz de o Carlos ter gostado;
2) Fica muito feliz que seu encarregado teve realmente bom gosto;
3) Fica muito feliz que foi o melhor presente da festa;
4) Fica puto, porque não ganhou isso.

O que você ganhou? Nada. A pessoa que lhe tirou não pôde comparecer. Mas não fique triste, nem sinta-se esquecido. Alguém lembrou de você e olhou por você esse tempo todo: Murphy, seu lindo.

Okey? Ok.